Jornal Folha de S.Paulo , quinta-feira 1º de outubro de 1981
Reduzir a contratação de empréstimos internos e externos, executar projetos somente quando houver recursos para tanto, são as palavras de ordem do ministro do planejamento, Delfim Neto, desde que "endureceu" a política de combate à inflação (a diante da necessidade de evitar que a dívida externa brasileira continuasse crescendo ao ritmo dos últimos anos). Sua orientação parece vir sendo fielmente seguida pelo secretário da Fazenda de São Paulo, Afonso Celso Pastore, de resto um dos seus principais assessores, no passado, e um de seus interlocutores favoritos, na análise de problemas da economia, nos dias de hoje.
Não apenas as despesas do Estado passam a ser cobertas, em maior parcela, por recursos resultantes da arrecadação (84% em 1982, contra 77%, em 1981); o próprio programa trienal de investimentos com gastos previstos de 3,1 bilhões de cruzeiros no período, reflete bem, a tentativa de contenção de gastos. Para execução do programa de investimentos, apenas 60% deverão resultar de empréstimos (41,5% captados no mercado interno e 12,5% captados no exterior) e recursos de terceiros (5% de recursos fornecidos pelo governo federal). Nada menos de 40% do montante a ser investido corresponderá a recursos do próprio Tesouro paulista (27%) e das empresas, autarquias e fundações estaduais (13%). Há dois anos, o Estado estava investindo apenas 15% de recursos próprios, e recorrendo a empréstimos para cobrir os 85% restantes, numa política de endividamento que, além de ser inflacionária (na visão do ministro Delfim Neto) acabava por gerar grandes despesas financeiras para o Estado. Os juros consumiam suas receitas futuras, reduzindo sua capacidade de investir a longo prazo.
Logicamente, quem procurar também aspectos políticos no orçamento paulista para 1982, um ano de eleições, encontrará dados para concluir que nem tudo se pauta por uma política de austeridade financeira-administrativa. Há, por exemplo, algum aumento nos recursos destinados ao setor social, cuja participação cresce de 55,6%, em 1981, para 58,6% em 1982, e que pode refletir antes o desejo de cortejar certos segmentos da sociedade, do que uma filosofia administrativa. A dúvida se fortalece diante do saldo recorde, de 445%, experimentado pelos recursos do Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo - de 78 para 425 milhões de cruzeiros.
Eles serão gastos pela própria esposa do governador, Sra. Silvia Maluf, possivelmente em programas de cunho social, mas cujo rendimento político é facilmente avaliável...